Uma das propostas que vai estar segunda-feira à votação dos accionistas do Millennium BCP é o reforço da blindagem dos estatutos de dois terços para 75%. A iniciativa está aqui e é de Jorge Jardim Gonçalves. O que não é de estranhar. Está em linha com o que foi a sua actuação, bem sucedida, desde a fundação do BCP. E ajusta-se à actual fase do BCP tentando protegê-lo da violenta onda de concentrações bancárias que se está de novo a viver na Europa.
Olhar para o interesse dos accionistas que querem investimentos a longo prazo e não para ganhos de curto prazo foi sempre a grande orientação de Jardim Gonçalves, sem a qual tenho dúvidas que o BCP tivesse chegado onde está hoje. Isso custou-lhe alguns conflitos, nomeadamente com accionistas fundadores do BCP como foi Américo Amorim.
Proteger o banco de ofertas ou accionistas hostis tem sido outra das linhas de actuação de Jardim Gonçalves. Passar de 66% para 75% não protege o BCP de uma Oferta Pública de Aquisição hostil mas obriga o oferente a gastar mais dinheiro correndo mesmo assim um elevado risco de fracasso.
Claro que os estatutos mais blindados têm custos para quem olha para o curto prazo: ganha-se menos dinheiro com a especulação sobre títulos do BCP. E as acções do BCP valem menos que as de um banco com iguais características mas sem limites ao exercício do direito de voto. É natural que investidores puramente financeiros como Joe Berardo estejam contra a iniciativa de Jardim Gonçalves.
O BCP está hoje mais exposto a uma OPA hostil que antes do lançamento da Oferta sobre o BPI. Mas não é apenas esse facto que encontra racionalidade na iniciativa de Jardim Gonçalves. A Europa está a ser abalada por uma violenta onda de concentrações no sector financeiro.
No dia 20 de Maio dois bancos italianos, o Unicredit e o Capitalia anunciaram a sua fusão num negócio de 22 mil milhões de euros e criando assim uma das maiores instituições financeiras de Itália. Todos conhecemos bem a actuação proteccionista da Itália - que não é excepção no Mercado dito Único.
Ao mesmo tempo assistimos a um cerrado ataque ao holandês ABN Amro. A oferta amigável de que foi alvo por parte do Barclays - avaliada em 61,9 mil milhões de euros- poderá esta semana ter uma rival através da oferta, desta vez hostil, de um consórcio liderado pelo Royal Bank of Scotland e no qual está o Santander e o Fortis (accionista do BCP com 4,94%). E que pretendem repartir o ABN por si.
Esta era de facto a pior altura para o BCP ficar vulnerável a OPA's. E com este quadro compreende-se o que faz ainda correr Jardim Gonçalves.
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